Ana Marcela Cunha um fenômeno mundial das provas em águas abertas
5 anos ago 0
Brasileira vence os 25km no Mundial pela quarta vez, chega ao segundo ouro na Coreia e está a um título de César Cielo para se tornar a maior brasileira da história dos esportes aquáticos
Sob condições complicadas, com direito a chuva forte, ventania e mar com águas bastante agitadas, a prova feminina dos 25km das maratonas aquáticas – que fechou as competições da modalidade no Mundial de Desportos Aquáticos de Gwangju – coroou o talento de Ana Marcela Cunha na baía do Yeosu Expo Ocean Park, na cidade de Yeosu, distante uma hora e meia de ônibus de Gwangju. A disputa entre as mulheres teve a participação de 21 atletas, de 14 países, e começou cinco minutos depois da largada da prova masculina, que não teve representante do Brasil.
Após 5h08min3s0, a história terminou da mesma forma que nos Mundiais de 2011, em Xangai, na China; de 2015, em Kazan, na Rússia; e de 2017, em Budapeste, na Hungria: com Ana Marcela Cunha no alto do pódio, com a medalha de ouro pendurada no pescoço, ouvindo o Hino Nacional e vendo a bandeira brasileira sendo hasteada.
Ao contrário dos 25km masculinos, vencidos pelo francês Axel Reymond por três décimos de segundo de diferença para o russo Kirill Beyaev – 4h51min06s2 contra 4h51min06s5 –, Ana Marcela triunfou com folga. A medalha de prata ficou com a alemã Finnia Wunram, com 5h08min11s6, e o bronze foi conquistado pela francesa Lara Grangeon, com 5h08min21s2.
“A mente tem que estar sem pensar em nada, como se estivesse vazia. O importante é eu estar feliz. Enquanto eu estiver me divertindo, não brincando, mas me divertindo, porque é uma coisa que amo fazer, parece que fica mais fácil”, responde Ana Marcela, ao ser questionada sobre o que ela pensou nos últimos metros da prova.
“Quando a gente faz o que gosta, o que te deixa feliz, acontece algo que não tem preço. Não sei explicar direito. Os resultados vão saindo. E nos metros finais eu só quis ter certeza de que não tinha ninguém no meu pé. Tentei até dar mais do que tinha. Acho que a mente leva o corpo também”, reforça.
No encalço de Cielo
O ouro de Ana Marcela elevou ainda mais o patamar da maior medalhista da história das maratonas aquáticas em campeonatos mundiais. Na manhã desta quarta-feira (17.07) na Coreia, noite de terça-feira (16.07) no Brasil, a baiana, de 27 anos, beneficiada pela Bolsa Pódio do Governo Federal, já havia vencido a prova dos 5km.
Ali, a brasileira deixou para trás a holandesa, já aposentada, Edith Van Dijk, que até então estava empatada com Ana Marcela como a maior medalhista dos mundiais na modalidade, com três ouros, duas pratas e quatro bronzes. Com o triunfo nos 25km, Ana deu um passo adiante e chegou à 11ª medalha em mundiais, cinco delas douradas.
O Mundial da Coreia foi o primeiro do qual Ana Marcela voltará para casa com dois ouros conquistados em uma mesma edição. Após o sucesso em Yeosu, a supercampeã agora está perto de extrapolar os limites de seu esporte e se tornar a maior atleta do país em mundiais de desportos aquáticos levando-se em conta todas as modalidades em disputa no evento: natação, saltos ornamentais, maratonas, polo, nado artístico e high dive.
O nadador Cesar Cielo é quem tem mais medalhas de ouro, seis, além de uma prata. Ana Marcela já era a maior medalhista em números absolutos. Se igualar os seis triunfos do campeão olímpico, reinará sozinha como a dona do melhor desempenho em mundiais.
Desgaste extremo
Não é à toa que 53 das 64 atletas que competiram na prova feminina dos 10km das maratonas aquáticas no Mundial de Desportos Aquáticos de Gwangju não levantaram da cama dispostas a encarar o último desafio da modalidade na Coreia do Sul e nadar os 25km. O desgaste é tão elevado que a prova contou exatamente com um quarto do número de participantes da disputa dos 10km feminino, a prova olímpica, que teve na Coreia 64 nadadoras em busca do pódio.
Para se entender a extensão do esforço físico exigido para nadar os 25km e, principalmente, para vencê-los em um Mundial, é preciso recorrer não a uma planilha de treinos, mas à matemática. Nos meses que antecederam às Olimpíadas de Pequim, em 2008, o maior nome que a natação brasileira já produziu, Cesar Cielo, elevou o nível de sua preparação nos Estados Unidos ao limite. Em uma semana de trabalhos na Universidade de Auburn, no Alabama, Cesão costumava dar 15 mil rotações de braço na piscina. Tudo para chegar “voando baixo” na China.
Quando o momento de provar seu valor finalmente chegou, no dia 18 de agosto de 2008, ele disparou 34 braçadas, não respirou uma única vez, foi o mais rápido nos 50m livre e conquistou o primeiro ouro da história do país na natação em Jogos Olímpico. De quebra, estabeleceu um novo recordo olímpico: 21s30.
Ana Marcela tem uma frequência de 67 braçadas a cada 100 metros quando está em competição. A partir daí, é só fazer as contas: foram cerca de 16.750 rotações de braços desde a largada, as 8h05 da manhã, até a quarta medalha dourada nos 25km em Mundiais, pouco mais de cinco horas depois.
É um esforço tão grande que até atletas profissionais contorcem o rosto quando imaginam encarar o desafio. “Eu acho que qualquer um que compete nesta prova é absolutamente incrível. Nunca passou pela minha cabeça sequer tentar isso. É preciso ser um atleta extraordinário para completar os 25km. Acho que mentalmente você tem que ser forte para nadar nas condições de hoje. E Ana Marcela é impressionante”, diz a australiana Kare
Treino todo dia
Os feitos de Ana Marcela Cunha nos 25km tornam-se ainda mais impressionantes após a afirmação do técnico dela, Fernando Possenti, de que sua atleta simplesmente não treina para a prova mais longa das maratonas aquáticas. “A Ana nunca treinou para os 25km. Ela treina para os 10km. Os 10km é a prova que vale, é a prova olímpica”.
É o contrário, por exemplo, do francês Axel Reymond, campeão na Coreia, que só treina para os 25km. Ele não disputou nenhuma outra prova nas águas da baia de Yeosu. Ana Marcela, por sua vez, competiu em todas: 5km, 10km, revezamento misto e 25km.
Como é possível, então, que ela tenha tido tanto sucesso na distância a ponto de ser uma tetracampeã mundial? Para Possenti, existe uma série de fatores. “Ela ganha os 25km porque tem uma força mental e um controle do ambiente absolutos”. Já para Ana Marcela, tudo se resume a um só argumento: ela rala muito. “Eu posso não treinar para a prova, eu posso não me preparar fisicamente para os 25km, mas treino todo dia”, ensina a supercampeã.
“A gente vem desde 2011. Não é novidade para mim nadar esse tanto de quilômetros antes dos 25km. Em 2011, fiz isso: nadei três provas quando fui campeã mundial pela primeira vez. No Mundial de Kazan, em 2015, não nadei os 10 quilômetros, mas nadei o revezamento, que foi a prova dos 5 quilômetros de antigamente. Então, nadei os cinco antes de nadar os 25. Em Budapeste, em 2017, eu nadei todas as provas, assim como neste Mundial. Então não é uma preparação de um ano ou de dois anos. É a gente já ter feito isso durante três mundiais e estar fazendo pela quarta vez. Eu sei como é chegar nos 25km cansada e, mesmo assim, ter um pouquinho de gás. O que leva o corpo nesse finalzinho é a cabeça”
Jornada dupla no Pan
Depois de nadar 41,25 quilômetros nas quatro provas em Yeosu – 5km, 10km, 1,25km no revezamento e os 25km –, Ana Marcela merecia um bom descanso, certo? Nada disso! Por força do calendário, marcado pelos Jogos Pan-Americanos de Lima, que começam no dia 26 de julho, a tetracampeã mundial dos 25km não poderá se dar esse luxo.
“Saímos daqui amanhã (20.07), chegamos ao Brasil no domingo (21.07) à noite, treinamos no Brasil por um período de nove dias e depois embarcamos para o Pan”, revela Fernando Possenti. “Não tem como ter folga. Na segunda-feira (22.07), a gente já treina. É normal. Tanto ela quanto eu vamos estar cansados, mas ela precisa colocar o corpo de novo pronto para competição. A gente vai diminuindo a quantidade de treino para que ela possa competir bem, mas como temos esse intervalo entre as duas competições, eu preciso fazer com que ela volte a treinar para chegar no Pan bem de novo. Descanso mesmo só no Natal e no Ano Novo”, diz o treinador.
Como se não bastasse emendar um Mundial tão exaustivo com a longa viagem de volta ao Brasil e o desafio do Pan, em Lima, Ana Marcela Cunha ainda irá encarar um novo desfio no Peru: uma jornada dupla, como definiu Possenti.
Ela nadará os 10km das maratonas aquáticas e também vai competir nos 800m livre e nos 1.500m livre na piscina. “No final das contas, é bom por dois motivos: Primeiro porque daqui a quatro anos ela vai estar aos 31 anos e não sabe se vai ter essa oportunidade na vida dela, que é uma coisa nova, de fazer uma jornada dupla. E segundo porque essas provas de piscina fazem com que ela tenha mais velocidade para sprintar no final das provas de maratona. É bom que ela faça os dois”, explica.
Ana Marcela volta para casa satisfeita com o que viveu no Mundial na Coreia, mas, como toda boa campeã, ficou um gostinho de que poderia ter ido um pouco mais longe nas águas de Yeosu.
“A gente sempre vem para vencer. Nós treinamos principalmente para os 10km e os 5km, então estávamos prontos. Faz dois mundiais que eu saía com três medalhas. Esse agora estou saindo só com duas, mesmo que sejam duas de ouro. O aproveitamento foi de 66%. É bom, mas ainda não é o que a gente quer”, encerra, ainda falando sobre o fato de ter ficado em quinto nos 10km e não ter ido ao pódio.
Pódios desde Roma 2009
Os atletas das maratonas aquáticas têm contribuído para o sucesso do Brasil nos Mundiais de Desportos Aquáticos. Desde a edição de Roma 2009, quando Poliana Okimoto se tornou a primeira nadadora brasileira a subir ao pódio, com o bronze nos 5km, os representantes do país na modalidade faturaram medalhas em todas as edições seguintes: Xangai 2011, Barcelona 2013, Kazan 2015, Budapeste 2017 e, agora, em Gwangju 2019. No total, o Brasil tem 15 medalhas em Campeonatos Mundiais nas maratonas aquáticas: 6 de ouro, 3 de prata e 6 de bronze. Confira a lista de pódios do Brasil na competição:
Ouro
» Xangai 2011 – Ana Marcela Cunha – 25km
» Barcelona 2013 – Poliana Okimoto – 10km
» Kazan 2015 – Ana Marcela Cunha – 25km
» Budapeste 2017 – Ana Marcela Cunha – 25km
» Gwangju 2019 – Ana Marcela Cunha – 5km
» Gwangju 2019 – Ana Marcela Cunha – 10km
Prata
» Barcelona 2013 – Poliana Okimoto – 5km
» Barcelona 2013 – Ana Marcela Cunha – 10km
» Kazan 2015 – Allan do Carmo, Ana Marcela Cunha e Diogo Villarinho – Equipe 5km
Bronze
» Roma 2009 – Poliana Okimoto – 5km
» Barcelona 2013 – Ana Marcela Cunha – 5km
» Barcelona 2013 – Allan do Carmo, Poliana Okimoto e Samuel de Bona – Equipe 5km
» Kazan 2015 – Ana Marcela Cunha – 10km
» Budapeste 2017 – Ana Marcela Cunha – 5km
» Budapeste 2017 – Ana Marcela Cunha – 10km
Investimento
Todos os seis atletas das maratonas aquáticas que defendem o Brasil no Mundial de Gwangju recebem a Bolsa Atleta do Governo Federal. Dos seis, apenas Victor Colonese não recebe a Bolsa Pódio, a mais alta categoria do programa, do qual fazem parte Diogo Vilarinho, Fernando Ponte, Allan do Carmo, Ana Marcela Cunha e Viviane Jungblut. O investimento anual nos atletas da Seleção Brasileira de maratonas aquáticas em Gwangju é de R$ 731,1 mil.
Luiz Roberto Magalhães, de Gwangju, na Coreia do Sul – rededoesporte.gov.br
Fotos: Satiro Sodré/rededoesporte.gov.br
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