Ana Marcela brilha nos 5km e se torna a maior vencedora das maratonas aquáticas em mundiais
5 anos ago 0
Nadadora baiana, beneficiada pela Bolsa Pódio, soma agora dez pódios. São quatro ouros, duas pratas e quatro bronzes. Ela ainda nada o revezamento e os 25km na Coreia do Sul
Por Luiz Roberto Magalhães, de Gwangju, na Coreia do Sul – rededoesporte.gov.br
Fotos: Satiro Sodré/rededoesporte.gov.br
O resultado isolou Ana Marcela, atleta beneficiada com a Bolsa Pódio do Governo Federal, como a maior campeã da história em mundiais na modalidade. Ela deixou para trás a holandesa Edith Van Dijk, atleta já aposentada e que tem três ouros, duas pratas e quatro bronzes em mundiais, as mesmas medalhas que Ana Marcela tinha antes do título nos 5km de hoje.
“Estou muito feliz. Não é a prova que a gente mais esperava uma medalha, mas ela veio”, comemorou Ana Marcela, que também falou sobre o fato de ser tetracampeã mundial. “Eu nunca imaginei isso. Eu não fico pensando: ‘Eu preciso ser tetra, preciso ser penta, preciso ser hexa´. Eu só quero dar o melhor e sair da água realizada. É isso que faço a cada prova e acho que as coisas vão acontecendo!”.
Sobre ter se tornado a maior campeã da história em mundiais, Ana Marcela também mostrou naturalidade. “Eu me sinto normal e continuo sendo a Ana Marcela que, em 2006, competiu no Mundial de Nápoles, com 14 anos. São 13 anos de Seleção e apenas em uma competição a gente ficou de fora, que foram as Olimpíadas de 2012. É um currículo e tanto. Sou a única em atividade a ser eleita para o Hall of Fame, então para mim é um orgulho grande, mas nada disso chega na minha cabeça”, afirmou pouco depois de sair da água.
Além de ter feito história, Ana Marcela ficou ainda mais feliz quando soube de uma coincidência ressaltada pela imprensa na Coreia. A baiana tornou-se tetracampeã mundial no mesmo dia, 17 de julho (na Coreia), em que a Seleção Brasileira de futebol comemora os 25 anos da conquista do tetracampeonato, nos Estados Unidos, em 1994.
“Eu tenho 27 anos, então não me lembro do Tetra. Eu tinha só dois anos. É a mesma coisa de não ter visto o Senna, e sou uma grande fã dele. Não tive a oportunidade de vê-lo, assim como não vi o Tetra, mas é legal saber que estou fazendo história no meu país também”, declarou a tetracampeã mundial.
A prova
Os 5km das maratonas não são olímpicos. A prova eleita pelo programa do Comitê Olímpico Internacional é a dos 10km. Assim, a prova desta quarta-feira na Coreia contou com dez atletas a menos do que os 10km, quando Ana Marcela ficou em quinto e garantiu a vaga para Tóquio 2020. Ainda assim, foi uma disputa muito concorrida, com 54 nadadoras, de 36 países.
Estavam no páreo, por exemplo, a campeã olímpica nas Olimpíadas do Rio 2016, a holandesa Sharon van Rouwendall; a medalha de prata nos Jogos do Brasil, a italiana Rachele Bruni, que já tinha conquistado uma medalha na Coreia, o bronze nos 10km, além da bicampeã mundial dos 10km, a francesa Aurelie Muller, ouro em Kazan 2015 e em Budapeste 2017, que terminou os 10km no Mundial da Coreia em 11º e acabou fora das Olimpíadas de Tóquio 2020.
Com a temperatura da água na casa dos 23 graus e com mais vento do que na prova dos 10km, Ana Marcela encontrou condições favoráveis ao seu estilo. Outro fator que contou foi que a prova não teve tanto contato físico quanto na disputa dos 10km e, com isso, Ana Marcela pôde fazer sua estratégia com mais tranquilidade. Na primeira volta, ela cruzou o pórtico na sexta colocação. Na segunda parcial, já era a segunda. Na última volta, assumiu a liderança e chegou ao histórico ouro em Yeosu.
“Foi uma prova um pouco mais limpa (com menos contato físico) em relação aos 10km. Não valia vaga olímpica, então acho que a galera estava um pouco mais tranquila, menos tensa, e não teve tanta porrada. A água nos 10km mais parada e hoje entrou um vento e tinha uma corrente”, analisou Ana Marcela.
O técnico de Ana Marcela, Fernando Possenti, ressaltou que o ouro de Ana Marcela na Coreia é mais uma prova do potencial que o Brasil tem e que deve ser valorizado nesse sentido. “Acho que a gente vive um momento de transição, porém o esporte quer mostrar que o brasileiro tem condições de fazer bons resultados. Por que digo isso? A Ana Marcela é uma atleta que treina no Brasil, em instalações brasileiras, com um técnico brasileiro. Não precisou buscar fora. Temos condições de fazer um país grande, com um esporte de potencial de resultados”, frisou Possenti.
Acompanhe abaixo, um ponto a ponto de Ana Marcela sobre o Mundial de Gwangju:
Ouro na Coreia
“Estou muito feliz. Não fiz a prova que gostaria nos 10km, embora tenha ficado em quinto. A gente veio para tentar dar o melhor e acredito que hoje realmente consegui isso. Não é a prova que a gente mais esperava medalha, mas veio. Foi uma prova mais limpa (com menos contato físico entre as atletas) em relação aos 10km. Não valia vaga olímpica, então acho que a galera estava mais tranquila, menos tensa, e não teve tanta porrada. A água nos 10km estava mais parada. Hoje entrou um vento e tinha corrente”.
Tetracampeã mundial
“Eu nunca imaginei isso. Não fico pensando: ´Eu preciso ser tetra, preciso ser penta, preciso ser hexa´. Eu só quero ganhar, dar o meu melhor e sair da água realizada. Eu acho que as coisas vão acontecendo, mas acredito que ainda falta um pouco de valorização para o nosso esporte. Sei que ele é novo, entrou nas Olimpíadas só em 2008, mas assim como o futebol ou o surfe, a gente tem campeões mundiais no nosso esporte. Não só eu, como a Poliana (Poliana Okimoto, bronze no Rio 2016), que tem medalha em Olimpíada. Então, acho que a gente precisa valorizar. Ser campeão mundial treinando e vivendo no Brasil a gente sabe que é um pouco mais difícil. Mas só tenho a agradecer. Tenho meus patrocinadores, tenho um apoio imenso e acho que isso é o que me faz continuar no meu país”.
Próximos desafios
“Estou indo prova por prova. Quando acabou os 5km eu disse que preciso mudar a chave, porque temos uma responsabilidade grande amanhã, no revezamento. Não estou nadando só por mim. Sou eu, a Viviane (Jungblut), o Diogo Villarinho e o Fernando Ponte. Então, acho que temos tudo para ir bem. Os meninos não tiveram uma classificação boa na prova dos 5km, mas se a gente olhar o tanto de segundos que eles chegaram atrás não é tão longe, então acho que a gente pode brigar por uma boa posição. Temos que sair da água sabendo que fizemos o melhor e acho que o Brasil está nesse espírito”.
Os 25km
“Os 25km a gente pensa depois do revezamento. Somos passo a passo. Eu e o Fê (Fernando Possenti, treinador de Ana Marcela) gostamos de pensar assim. Lógico que a gente pensa daqui a 372 dias, que é o que faltam para os Jogos Olímpicos e temos que estar prontos para lá. Mas a gente vai passo a passo”.
Maior da história em Mundiais
“Eu me sinto normal e continuo sendo a Ana Marcela que competiu em 2006 no Mundial de Nápoles, com 14 anos. São 13 anos de Seleção e apenas em uma competição a gente ficou de fora, que foram as Olimpíadas de 2012. É um currículo e tanto. Eu sou a única em atividade a ser eleita para o Hall of Fame, então para mim é um orgulho grande, mas nada disso chega na minha cabeça. Tudo fica para ser realizado e é isso. Vamos partir para a próxima. Ainda espero ter mais alguns mundiais pela frente”.
Coincidência dos tetras
“Eu tenho 27 anos, então não me lembro do Tetra do Brasil no futebol. Eu tinha dois anos. É a mesma coisa de não ter visto o Senna, e sou uma grande fã dele. Não tive a oportunidade de vê-lo, assim como não vi o Tetra, mas é legal saber que estou fazendo história no meu país também”.
Pódios desde Roma 2009
Os atletas das maratonas aquáticas têm contribuído bastante para o sucesso do Brasil nos Campeonatos Mundiais de Desportos Aquáticos. Desde a edição de Roma 2009, quando Poliana Okimoto se tornou a primeira nadadora brasileira a subir ao pódio, com o bronze nos 5km, os representantes do país na modalidade faturaram medalhas em todas as edições seguintes: Xangai 2011, Barcelona 2013, Kazan 2015, Budapeste 2017 e, agora, em Gwangju 2019. No total, o Brasil tem 14 medalhas em Campeonatos Mundiais nas maratonas aquáticas: 5 de ouro, 3 de prata e 6 de bronze. Confira a lista de pódios do Brasil na competição:
Ouro
» Xangai 2011 – Ana Marcela Cunha – 25km
» Barcelona 2013 – Poliana Okimoto – 10km
» Kazan 2015 – Ana Marcela Cunha – 25km
» Budapeste 2017 – Ana Marcela Cunha – 25km
» Gwangju 2019 – Ana Marcela Cunha – 5km
Prata
» Barcelona 2013 – Poliana Okimoto – 5km
» Barcelona 2013 – Ana Marcela Cunha – 10km
» Kazan 2015 – Allan do Carmo, Ana Marcela Cunha e Diogo Villarinho – Equipe 5km
Bronze
» Roma 2009 – Poliana Okimoto – 5km
» Barcelona 2013 – Ana Marcela Cunha – 5km
» Barcelona 2013 – Allan do Carmo, Poliana Okimoto e Samuel de Bona – Equipe 5km
» Kazan 2015 – Ana Marcela Cunha – 10km
» Budapeste 2017 – Ana Marcela Cunha – 5km
» Budapeste 2017 – Ana Marcela Cunha – 10km
Investimento
Os seis atletas das maratonas aquáticas que defendem o Brasil no Mundial de Gwangju recebem a Bolsa Atleta do Governo Federal. Dos seis, apenas Victor Colonese não recebe a Bolsa Pódio, a mais alta categoria do programa, do qual fazem parte Diogo Vilarinho, Fernando Ponte, Allan do Carmo, Ana Marcela Cunha e Viviane Jungblut. O investimento anual nos atletas da Seleção Brasileira de maratonas aquáticas em Gwangju é de R$ 731,1 mil.
Os brasileiros e suas provas
» Diogo Andrade Vilarinho – 5km
» Fernando Estanislau Ponte – 5km
» Ana Marcela Cunha – 5km, 10km e 25km
» Viviane Jungblut – 5km e 10km
» Allan do Carmo – 10km
» Victor Colonese – 10km e 25km
Programação e resultados
Horários de Brasília
12.07 – Sexta-feira
5km masculino
1. Kristof Rasovszky (HUN) – 53min22s1
2. Logan Fontaine (FRA) – 53min32s2
3. Eric Hedlin (CAN) – 32min32s4
25. – Fernando Ponte (BRA) – 53min43s6
36. – Diogo Villarinho (BRA) – 53min55s4
13.07 – Sábado
10km feminino*
1. Xin Xin (CHI) – 1h54min47s2
2. Haley Anderson (EUA) – 1h54min48s1
3. Rachele Bruni (ITA) – 1h54min49s9
4. Lara Grangeon (FRA) – 1h54min50s.0
5. Ana Marcela Cunha (BRA) – 1h54min50s.5
6. Ashley Twichell (EUA) – 1h54min50s.5
7. Kareena Lee (AUS) – 1h54min50s.5
8. Finnia Wunram (ALE) – 1h54min50s.7
9. Leonie Beck (ALE) – 1h54min51s.0
10. Sharon van Rouwendall (HOL) – 1h54min51s.1
12. Viviane Jungblut (BRA) – 1h54min51s9
* As dez primeiras colocadas garantiram vaga para as Olimpíadas de Tóquio 2020
15.07 – Segunda-feira
10km masculino*
1. Florian Wellbrock (ALE) – 1h47min55s9
2. Marc-Antoine Olivier (FRA) – 1h47min56s1
3. Rob Muffls (ALE) – 1h47min57s4
4. Kristof Rasovszky (HUN) – 1h47min59s5
5. Jordan Wilimovsky (USA) – 1h48min01s0
6. Gregorio Paltriniery (ITA) – 1h48min01s0
7. Ferry Weertman (HOL) – 1h48min01s9
8. Alberto Martinez (ESP) – 1h48min02s2
9. Mario Sanzullo (ITA) – 1h48min04s7
10. David Aubry (FRA) – 1h48min05s1
33. Allan do Carmo (BRA) – 1h50min14s7
35. Victo Colonese (BRA) – 1h50min15s2
* Os dez primeiros colocados garantiram vaga para as Olimpíadas de Tóquio 2020
16.07 – Terça-feira
5km feminino
1. Ana Marcela Cunha (BRA) – 57min56s0
2. Aurelie Muller (FRA) – 57min57s0
3. Hannah Moore (EUA) – 57min58s0
21. Viviane Jungblut (BRA) – 58min17s4
17.07 – Quarta-feira
20h – revezamento por equipes 5km
equipe brasileira: Ana Marcela Cunha, Viviane Jungblut, Diogo Villarinho e Fernando Ponte
18.07 – Quinta-feira
20h – 25km masculino e feminino
Ana Marcela Cunha e Victor Colonese
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